Ed-torial #49

(J)
Companheiros e companheiras,

a edição 50 teve mais de 1500 acessos. Vou não só agradecer, mas também fazer com que o último número cresça cada vez mais e chegue a seus objetivos (credo, que frase mais auto-ajuda).

No mês de Santo Antônio, houve relatos de colaboradores da edição anterior que tiveram sua vida amorosa incrementada graças á esta honrosa revista. Sim! se precisar arrumar namorado/a não faça promessa para o santo casamenteiro, mande seu texto para o último número!
por isso mesmo, o slogan deste mês será:

Revista O Último Número
A única que traz a pessoa amada em 3 dias!

desculpem pelo pequeno atraso nesta edição de julho e aguardem surpresas SENSACIONAIS em agosto!
Boa leitura



Expediente
Editor-chefe: Fernando Niero
Tirinha: J (Sp)
Colaboradores: Fernando Niero, Régis Ribeiro, Carolinna Laureano, Márcio Campos, Julie (Sp)
Giancarlo Rufatto (Curitiba),Danilo Nakamura (Londrina) Fernanda Grabauska (Porto Alegre)
Agradecimentos: Nina Antunes, Natasha Pinto, Eduardo Nascimento
Sugestões, colaboraciones e propostas milionárias: oultimonumero@hotmail.com
ou mande sua carta para: Fernando Niero:Rua Matheus Bariani, 97, Jardim Guadalupe, São Paulo Cep 06026140

Entrevista: Butcher Boy (Escócia)




Por Fernando Niero

Qualquer fã de boa música alternativa já teve vontade de visitar ou de viver em Glasgow: Pastels, Belle And Sebastian, Teenage Funclub, Vaselines... Da nova safra da cidade, um dos destaques é a banda Butcher boy, que mistura guitarras e instrumentos como cellos,violas e acordeons. O Vocalista John Blain Hunt, que também é dono de uma casa noturna dedicada à musica alternativa, bateu um papo com O Último Número

Ouvi Falar que John tem uma balada em Glasgow chamada "National Pop League", explique para o pessoal do Brasil como ela é e qual sua relação (se houver) com a banda

John Blain Hunt: Eu começei o National Pop League em 2001 porque eu estava frustado com os outros clubes existentes em Glasgow na época. Eu não acho que tenha um gosto extremamente sofisticado, mas eu amo demais meus albuns favoritos e os vejo como coisas belas, delicadas e frágeis. As noites "indies" (Nota do editor: aspas do próprio John) de Glasgow da época eram deprimentes- Cerveja ruim, fumaça de cigarro....Eu sempre sonhava com um clube que poderia ser apaixonado pela musica e atrair gente que amasse música e que fosse inclusivo:qualquer um que amasse musica seria bem-vindo. A história da banda não está muito relacionada à casa, porém, conheci nosso baixista nela. Mas foi muito importante porque eu me aproximei de nossa música da mesma maneira. Me preocupo muito com detalhes, e o mundo é feito de detalhes...queria fazer algo belo.


Por que Butcher boy? (açougueiro)

O nome vem especialmente de um livro de um escritor Irlandês chamado Patrick McCabe, e que mais tarde foi transformado em filme por Neil Jordan (NdoE: o mesmo de "entrevista com o Vampiro"). É de tirar o folego, faz-nos pensar mas ao mesmo tempo é tão brutal...* gosto do som da frase também, "açougueiro" soa muito sinistro fora de contexto


O Quão a banda foi influenciada pelas bandas da cidade?

Amo mais a musica de Glasgow do que viver em Glasgow, eu acho isso triste, pra ser honesto, acho que as bandas de Glasgow me fazem lembrar da cidade: eu sempre fico a imaginar a época em que as gravações foram feitas. Nós fazemos o máximo para não sermos influenciados. É melhor que nos ocupemos com nossa pequena esquina na cidade






5 albuns que cada um escutou recentemente e gostou muito

Basil Pieroni (guitarra)

Bonnie Price Billy - The Letting Go
M Ward - Post War
Pernice Brothers - Live a Little
The Shins - Wincing The Night Away
Willie Nelson - Songbird

Alison Eales (piano, acordeon)
Joanna Newsom - Ys
Charlotte Gainsbourg - 5.55
Abba - Ring Ring
REM - Reckoning
Air - Talkie Walkie


Findlay MacKinnon (bateria percussão)

Shins - Wincing The Night Away
Jim Noir - Tower Of Love
Amy Winehouse - Back To Black
Decemberists - The Crane Wife
Decemberists - Picaresque


John Blain Hunt (vocal, guitarra)

Midlake - The Trials Of Van Occupanther
Cats On Fire - The Province Complains
Tim Hardin - Black Sheep Boy
John Carpenter - Assault On Precinct 13 OST
The Organ - Grab That Gun


*o livro e o filme foram lançados no Brasil sob o nome de "Nó na garganta". O livro foi lançado pela editora Geração




Fernando Niero- U

De repente ela foi um amor maior, mas não posso evitar que ela tenha outra vida, estamos separados
olhares fervorosos e agora gelados
confissões tediosas
sincopadas e
medrosas
na manhã
aonde cheguei
na Consolação,

da insonia arruinados estamos
De repente eu decorei demais espaços menores, não posso hesitar na hora da partida,

Fernando Niero não gosta de poesia concreta (mesmo)

Fernanda Grabauska: Breve Rapsódia de uma decepção

Foi assim que me arrumei e assim que, acabada, virei pó depois de esperar sentada por quarenta e sete zilhões de anos. Ao olhar do alto, refestelei-me por não ter gasto dinheiro em meias rendadas e por não ter transcrito aquele bilhete na minha melhor caligrafia apaixonada. Sim, me lembrava de poder fazer a medida crescente da paixão de alguém por sílaba lida. Com algumas frases, me orgulhava de poder "acorrentar uma alma" (não que eu possa parafrasear esse texto bonito). O que não importa nada, porque odeio todas as frases que aqui escrevo, com ódio meteoricamente ascendente. Naquele dia, enfim, ao dormir de cinta-liga e meias que não combinavam, perdi minha capacidade de sentir qualquer coisa por qualquer coisa.




...morri por dentro.


Fernanda Grabauska é uma pobre vestibulanda: logo, não é nada.

Julie: Andarilha dentro de uma caixa pensando

Eu sou aquela que anda na rua
À procura de uma outra rua
Onde eu me sinta nua
Desta ansiedade de você.
É infinita esta luta absurda
De entender se a minha alma é sua
Ou se estas palavras são apenas
Devaneios sob a luz da lua,
Pensando se sei como você
Eu poderia ter.
Meus sentimentos são como
As gotas de chuva que caem,
Se espalham, se juntam e
Inundam a rua escura pela qual eu passo
Me sentindo maluca pela ausência
De uma alma pura
Como aquela que eu pensava ter.
Nossa história não continua
Porque ela não nos atura.
Ela me joga na rua imunda
E eu percebo como é suja
A idéia de se ter
Um ideal para viver.
A vida machuca e eu fico aqui
Escondida sem cura
Nesta sala escura
Sem janelas para a rua.
Esperando a hora dura
De levantar e sair madura
À procura de quem me encantará
Enquanto eu viver.
Desta maneira absurda
Me sufoco aos poucos
Nesta hora noturna
Tentando compreender.

Maio/2007


Julie tem o zine "Burn Don´t Freeze" e usa um óculos super-transado!

contato: burn_dontfreeze_zine@yahoo.com.br

Giancarlo Rufatto: a vida de uma pessoa sem absolutamente nada pra fazer

Erros de ortografia, letras minúsculas e ausência de acentuações apresentam:
A vida de uma pessoa sem absolutamente nada pra fazer.


Acordo cedo. Não preciso, é só culpa. Procurar empregos que não quero exige alguma dedicação. Corte a barba, banho, dentes, café da manha. Um copo de café, um pão com queijo e cenoura ralada, uma banana. Fim. Calças, duas meias. Uma pra proteger os calos que estão em estado de cratera. Camiseta branca, casaco para os 6° que o radio acusa. Cachecol e cabelos vistos e revistos. Estes são meus últimos dias como alguém ligado à comunicação. Semana que vem tento um emprego braçal, destes que não precise pensar, se comunicar, etc. a partir de agora só vou exigir de mim o básico. Respirar, andar, comer, levantar pedras. Na lista de exigências trabalhistas deveria estar escrito "sem necessidade de fazer a barba" marcaria um x. camisetas brancas, bonés de posto de gasolina, vida real. Voce conhece algum homem de verdade? Algum com menos de 30 anos eu digo? A vida moderna transformou todo mundo numa coisa só, como na Grécia, eu acho, onde só existiam homens e exercícios mentais, o que me faz pensar que foram mulheres que levantaram aquelas colunas. Caminho alguns quilômetros, é legal me vangloriar de que estou indo de uma ponta da cidade a outra em pouco mais de duas horas de caminhada. É engraçado que quando eu procurava por empregos na área de comunicação, sempre estava encharcado de nervosismo, afinal, essas pessoas são naturalmente esnobes, mesmo que não sejam na verdade, voce sempre pensa que eles vão rir de voce assim que a porta se fechar. Quando voce procura por empregos físicos, as pessoas olham pra voce e dizem "tem certeza que quer isso?" ou "não podemos pagar muito, voce entende?", qual o problema em receber passes e marmitas ao invés de convites pra peças e exposições? Juro que semana que vem, vou numa garfiera, garfieira, gafiera, eu ainda não sei escrever, mas decidi que vou lá naquela que todo mundo fala, a que tocou pedro luis e a parede, man or astroman, que nenhum dos meus colegas sabem quem são, mas vão todo fim de semana naquele lugar caro e cheio de mulheres. Mais algumas horas, pastel do lado da catedral, recomendo, é o melhor pastel da cidade por cinqüenta centavos. Gosto de enfatizar o fato de o pastel ser feito por legitimas brasileiras. Praticamente as ultimas lutando contra o império da máfia das pastelarias chinesas, são 4 só ao redor da tia do pastel. Recomendo, quando voce vier aqui, coma os pasteis de cinqüenta centavos do lado da catedral. Meia hora e estou em casa. Vejo a novela das sete. Na verdade vejo porque divido apartamento com um menino que estuda cinema e por isso a casa vive cheia de futuros cineastas ricos, alias como todos que fizeram cinema nesta terra. O que me irrita é fato, não a minha pobreza, mas sim a riqueza deles. Não disse, mas faço trilha para os filmes deles, depois que um tal de Werner alguma coisa me elogiou, todos passaram a pedir trilhas minhas. Mas o estúdio andou mal das pernas, troquei minha guitarra por um violão, uma harmônica e o dinheiro do aluguel, larguei mão de bandas de rock, só servem pra fazer inimigos, lembre-se disso, nada de bandas. No momento em que escrevo, todos os cineastas usam a sala da casa como cenário pra mais um filme de muito sucesso. Ainda bem que existe internet.



Giancarlo Rufatto é de Curitiba, ás vezes escreve textos sem parágrafos e sim, tem o que fazer (adoro entregar as pessoas)

http://giancarlorufatto.blogspot.com/

Carollina Laureano: Sobre Escrever

O prazo para entrega do meu texto já havia se esgotado há pelo menos uns dois dias e eu já havia atingido todos os limites de desculpas esfarrapadas que um ser humano poderia inventar. A última era que eu não estava gostando do rumo que o final do meu fictício texto havia tomado.
-Pô Johnny, tu tá abusando, estamos com os prazos no limite.
Essa frase martelava em minha cabeça. Ecos. "O prazo Johnny, o prazo".
Infelicidade. Eu estava mesmo em uma maré de azar. Até o horóscopo eu passei a ler, quem sabe um dia ele me profetizaria como sendo aquele meu dia de sorte. Passei a ler compulsivamente como se, em um estalo, a inspiração e os ventos dos bons escritos retornassem à minha vida. Tudo em vão.

Optei por uma outra alternativa: pautar coisas. Eu era bom com pautas. Primeiro decidir escrever sobre a conjuntura política nacional atual. Sentei, as idéias já fluindo, cheguei até a visualizar o texto todo escrito em minha frente. Estalei os dedos, abri o editor de textos e disse pra mim mesmo: "vamos lá João, está tudo aqui dentro, é só colocar pra fora, vamos na fé".
Sacudi os ombros e comecei a digitar.
Só comecei.
Aquela situação era impossível, se eu contasse para alguém era bem provável que duvidasse, seria bem compreensível. Quem tem medo de um editor de textos em branco? Tanta coisa nesse vasto mundo para ser temeroso e eu estava me deixando intimidar por um espaço em branco, justo eu que era acostumado a escrever até diante do sacolejo do ônibus, ou de pé no metrô, ou em qualquer outra situação improvável.
Decidi relaxar, afinal, se já tinha enrolado por dois dias, um dia a mais acho que não faria tanta diferença assim.Andei pelos corredores estreitos do apartamento. Liguei a cafeteira e enquanto o café passava decidi acender um cigarro. As idéias sempre fluíam melhor depois de um café, ou de um cigarro. Conclui que se fizesse ambos quase que ao mesmo tempo eu deveria ter uma fruição em dobro, ou algo perto disso.
Peguei uma xícara de café bem forte e sentei novamente diante do computador. Optei novamente pelo sistema de pautas. Talvez devesse escrever sobre algo não tão tenso quando política, talvez artes e cultura. Era realmente o que eu gostava de escrever, me sentia a vontade para falar sobre tal assunto, era algo mais próximo a minha realidade. Talvez alguma divagação sobre algo que eu tenha visto recentemente e que tenha despertado alguma reação adversa em mim, ou talvez a operação inversa, algo que eu fui vê com uma expectativa grande e que me decepcionei com o resultado. Fiz uma retrospectiva de shows, exposições, cinema, teatro e afins. Idéias começaram a se esboçar em minha mente. Sabia que esse truque não ia falhar e que todo meu fiel envolvimento com o cenário cultural da cidade não me deixaria na mão quando eu mais precisasse.
O telefone toca. Atendo ou não atendo? Justo agora que eu havia começado a me concentrar em coisa séria. Mas se eu não atender e seja lá quem for continuar insistindo e eu perder de vez toda a concentração que levei horas para pode conquistar. Decidi atender, mas prometi ser breve.
- Alô.
-Johnny? Nina, tudo bom.
(Ó pai, justo a Nina. Essa foi golpe baixo)
- Que surpresa.- Pois é. Então, vou estar pelos seus arredores hoje, não estás afim de uma cerveja?

(Aquele sotaque sulista, aquelas curvas)
- Johnny? Johnny? Ouviste o que eu disse?
- Sim, sim. A que horas seria?
- Daqui à uma hora.
(Uma hora? Pensei eu, tempo mais que suficiente pra escrever uma simples crônica. resolvi topar)
- Perfeito. Onde nos encontramos?- Naquele mesmo bar daquela última vez, se lembra?(E como eu poderia esquecer)- Combinadíssimo. No mesmo bar do último encontro. Vai ser bom revê-la.
- Digo o mesmo. Deixa-me ir arrumar então. Até daqui a pouco.
- Até.
Desliguei o telefone sem ter a certeza de ter feito a coisa certa ou de ter ido em direção ao infortúnio. Bom, eu só tinha que me concentrar e terminar de escrever. Terminar o que? – pensei - se mal havia começado a organizar minhas idéias antes do telefone tocar.
Algumas frases começaram a surgir diante daquele editor em branco, logo pensei, agora vai. Mas o relógio me avisava que faltavam 15 minutos para o meu encontro. Eu que esperei tempos e tempos por está ligação e ela me vem numa hora dessas, só podia ser alguma peça do destino. Salvei o quase nada que havia produzido, tomei um banho rápido, me vesti e fui.
Durante o pequeno percurso que separava o meu apartamento do bar eu pensei e pensei. Deveria eu te ligado e avisado que me atrasaria um pouco? Deveria eu ter convidado ela a vir até minha casa? Deveria eu ter recusado o convite?
Quando cheguei lá estava ela, sorridente me esperando. Aquele sorriso, juntamente com aquele belo par de olhos azuís, levaram embora todas as minhas dúvidas.
- Achei que havia desistido de mim?
- Imagina. Enrolei-me um pouco antes de sair de casa.
- Estás pensativo. (falava enquanto retirava a franja que caia sobre minha testa)
- Uma pequena preocupação, mas nada grave. Logo passa.
- Tens certeza que eu não atrapalho? Liguei assim na pressa, te tirei de algum trabalho?- Não, não. Já disse que não é nada de importante.Bebemos algumas cervejas e a proximidade com o novo dia fez com que ela se despedisse.

- Tenho que ir, já está ficando tarde.- Fique mais um pouco. Eu a levo em casa.- Não precisa preocupaste.- Não quer dormir em casa, a hora já está bem avançada para mocinhas ficarem andando sozinhas por essas ruas violentas.
(o que havia me levado a ter criado um discurso tão, tão, piegas pra não dizer outras coisas)
- Já disse que não quero incomodar.(a essa altura eu já sentia uma certa embriaguez em sua voz)
- Incomodo algum.
- Então eu aceito.
Agora sim eu havia dado tchau a todas possibilidades de escrever alguma coisa e entregar no dia seguinte, no primeiro horário, antes que meu editor pudesse abrir sua caixa de entrada e ver que nada referente ao meu compromisso havia sido entregue. Estava completamente encrencado.
Chegamos em casa e a primeira coisa na qual eu me deparei foi com aquela tela quase que em branco que tanto estava me incomodando. Mais uma vez pensei, talvez quem sabe depois de uma tanta esperada noite as coisas voltem ao normal e eu consegui vomitar tudo o que estava entalado dentro de mim. Tentei me concentrar em Nina, já completamente bêbada jogada em minha cama.
- Vem cá vem.
- Dê-me cinco minutinhos querida.
(que besteira tamanha eu havia falado, eu que a tempos havia esperado por aquele momento, mandei-a esperado por uma tela em branco que tanto me intrigava. eu só poderia ter ficado louco mesmo)

- Vem Johnny.
- Um minutinho.
Estava decidido a escrever sobre aquela cena que estava se passando diante de meus olhos e de todo o paradoxo na qual ela havia se transformado. Quando eu poderia sentar e escrever eu estava com bloqueio e, quando eu deveria esquecer de que palavras existiam, elas todas se manifestaram ao mesmo tempo numa voracidade tamanha que era impossível controlar.
Acordei no outro dia debruçado sobre o teclado. Tentei entender o que havia acontecido, ainda estava um pouco sonolento. Olhei para a cama numa tentativa de encontra-la lá, dormindo, mas a mesma estava vazia. Tentei procurar algum bilhete, sobre a cômoda, cama, geladeira, mesa. Nada, absolutamente nada.
As coisas voltaram a ser como antes. Nina intocável e mês textos devidamente escritos. Talvez ela nunca mais me ligue, ou talvez ela tenha entendido minha situação. Talvez não. Talvez quem sabe.Talvez quando ela ler aquela coluna - a qual fez com que ela me enviasse um email dizendo ser uma leitura assídua e me convidando para um café um dia desses - e ver que nela, dessa vez, transborda toda sua sensualidade por mim desnudada em palavras, e quem sabe da próxima vez, em ações.

Entrevista: My Darling YOU (Suécia)


Pérolas Escandinavas.
Por Danilo Nakamura

Se a Suécia fosse tão somente bela pelo genótipo dominante (com o perdão do eufemismo para "loira gostosa"), já seria motivo suficiente para qualquer menos-besta cogitar uma viagenzinha – ou, no mínimo, uma pesquisadela sobre o que faz de seu povo uma raça superior. Agora, veja bem: Ingmar Bergman em vez de novela das oito; IDH entre os cinco melhores do planeta; lagosta em vez de bife... chega. Pois é pra lá que aponta a maioria dos olhares garimpeiros de novidades bacanas no cenário musical, e não é de agora.

Para não perder o ritmo da última edição, "O Último Número" volta pra Escandinávia e traz a também primeira entrevista publicada em português com o duo de indiepop sueco My Darling You! - um daqueles belos exemplos de banda que a gente não gosta de dividir com os outros.
Sempre no formato DIY (do-it-yourself), o MDY completa cinco EP’s em três anos de carreira, com "I Will Exclude You With My Body Language" lançado no mês passado.

Mesmo com uma agenda pequena de shows, Klas e Christoffer ainda são grande referência no cenário nacional (da Suécia, claro) e têm ganhado projeção considerável nos bastidores da chamada imprensa especializada. O que segue abaixo é resultado de quinze dias de bate-papo com os caras, que do Brasil sabem tanto quanto nós de São Tomé e Príncipe.


Houve um tempo em que a Suécia era um dos maiores exportadores de pragas pop do mundo. Já hoje em dia, vocês têm sido comentados como o país mais cool fora do cenário Inglaterra-Estados Unidos. O que vocês acham daquela e desta Suécia – de Abba e Ace Of Base até Loney, Dear e I’m From Barcelona?

A gente prefere a antiga, pra ser sincero. Temos mais influência de bandas como o ABBA e o Ace Of Base que de, por exemplo, o I’m From Barcelona.
Há também uma grande produção de bandas DIY por aí. Isso é por ser difícil conseguir um contrato com os selos?


É tudo questão de grana... bufunfa mesmo. Existem vários selos pequenos, mas infelizmente a maioria deles não tem projeção alguma. O mais importante não é assinar com um selo, eu diria, mas ter uma distribuição decente ou contatos que te possibilitem ser divulgado e vender os discos.

Como é o processo DIY e quanto tempo leva para uma música ser finalizada?


Pelo menos duas horas e meia por música, mas é claro que isso depende de quão boa você quer que ela fique. Klas conseguiu copiar os timbres da bateria de um amigo pro computador. Então ele programa as baterias e grava a linha delas num estúdio portátil. Daí ele põe os sintetizadores – às vezes, percussão e violão – e a gente se junta para gravar a linhas de baixo e voz. O processo inteiro é um tanto longo, mas depois que grava a bateria fica bem mais fácil.
"I Will Exclude You…" soa um tanto parecido com "My heart beats too fast for our friendship to last" (penúltimo EP da banda) e poderia ser um CD completo, se unidos. Por que não lançar um disco inteiro em vez de vários EP’s?


A gente acha CD uma coisa meio semana passada. Trabalhar com EP’s parece bem mais criativo. Se a gente lançasse um álbum, provavelmente teria de coletar uns três EP’s e soa desnecessário. Mas nós lançamos recentemente "16 major problems", uma compilação dos três primeiros EP’s da banda, distribuída pelo selo peruano Plastilina Records. É um bom material introdutório pra quem quiser conhecer nosso trabalho.
E o que vocês ouvem?


Ah, cara, nossas influências são muitas. Até coisa que a gente não ouve. Mas eu tenho escutado muito Dub, e o Klas só ouve Peter Tosh...

Qual sua música preferida do My Darling You!?


Provavelmente LAST4EVER. A gente gosta de cantá-la juntos nos shows, pelo menos. Na verdade, todas nossas músicas são ótimas, nos contextos devidos.

O episódio descrito em "Taxidriver" realmente aconteceu? (a música descreve uma noite em que o cara divide um táxi com uma menina pra voltar da boate, e acaba sendo agarrado pelo taxista, mas se compadece dele...)*


Cara, tudo foi tão rápido. Mas está tudo descrito na música.

Vocês se dedicam integralmente à banda?


Como não queremos depender de sucesso, temos nossas outras ocupações. Klas trabalha numa loja de departamentos e eu (Christoffer) estudo. Aliás, nossa próxima música será sobre largar o emprego!

Como é a vida na Suécia?

Cerveja: R$8,00
Cigarro: R$12,00
Pão: R$6,00 (o pão lá é maior que o daqui, óbvio)
Prato típico de um dia ensolarado: Sanduíche natural de frutos do mar, batata cozida, caviar com pão, morangos com chantili para sobremesa e algo forte pra beber.
No inverno a gente quer ter verão, e no verão quer primavera.








Danilo Nakamura mora em Londrina/PR, é estudante de jornalismo e diz ter vivido os 10 melhores dias de sua vida em Estocolmo.
Contato: DaniloNakamura@hotmail.com

Regis Ribeiro: "Falta-me testosterona" ou "Sou tão feminino que nem uma porra de um texto machista eu consigo fazer"

"Falta-me testosterona" ou "Sou tão feminino que nem uma porra de um texto machista eu consigo fazer"

Não sou macho o suficiente pra decidir fazer o que se deve fazer. Não consigo obedecer minha consciência, meus instintos. Sinto-me uma verdadeira fêmea à mercê dos outros, do mundo. Minha parte macho dominador hiberna, feliz. Não mereço meu pênis, meus pêlos pubianos, minha barriga imensa. Se meu pau fosse maior, se a testosterona fosse suficiente na minha vida, talvez fosse realmente masculino.
Ah, quantas coisas faria... Mas não, falta-me macheza.
Músculos.
A confiança na própria força.
Os cds do Mudhoney.
Mas como macho não sou, fico aqui, a ouvir melodias de mulherzinha. Canções em inglês, lamúrias muito bem elaboradas. E choro copiosamente, como uma dona de casa assistindo o último capítulo da novela. Qual a diferença? Nenhuma, meu amigo. Nenhuma...
Resta-me comer a minha própria vagina. Sou uma mina bem gostosinha. Tímida, reclusa... Aceito tudo muito bem.
Regis Ribeiro estuda Geografia e faz suas próprias camisetas

Marcio Campos: Tecnicolor Song


(ou "Uma bela canção de despedida")


Não mais as notícias do dia me implorando para ser um cara mais tolerável e sutil com as pessoas. Tão pouco cenas de sexo explícito, em plena novela das oito, sendo exibidas a crianças de quatro anos de idade.
Apenas uma lambida próxima ao ouvido e um incitar de formas e cores que ganham mais intensidade quando atreladas a calmantes e bebida.
Não mais a sorte do dia em biscoitos chineses dizendo: "um grande fenômeno acontecerá na sua vida!". Nem cadelas no cio trepando com o braço do sofá atrás de uma desesperada despedida.
Somente a intensidade dos corpos unidos, um grunhido e um grito de gozo, enlouquecida, que faça mais sentido no momento em que for proferido.
Essa era a busca por um amor perfeito e é-me tortuoso perceber que isso dá muito trabalho.
Sendo assim, sigamos o caminho, querida...
Prossiga.

Marcio Campos é formado em jornalismo e, ao defender sua tese, fez um discurso maior que os do Fidel!