Giancarlo Rufatto: a vida de uma pessoa sem absolutamente nada pra fazer

Erros de ortografia, letras minúsculas e ausência de acentuações apresentam:
A vida de uma pessoa sem absolutamente nada pra fazer.


Acordo cedo. Não preciso, é só culpa. Procurar empregos que não quero exige alguma dedicação. Corte a barba, banho, dentes, café da manha. Um copo de café, um pão com queijo e cenoura ralada, uma banana. Fim. Calças, duas meias. Uma pra proteger os calos que estão em estado de cratera. Camiseta branca, casaco para os 6° que o radio acusa. Cachecol e cabelos vistos e revistos. Estes são meus últimos dias como alguém ligado à comunicação. Semana que vem tento um emprego braçal, destes que não precise pensar, se comunicar, etc. a partir de agora só vou exigir de mim o básico. Respirar, andar, comer, levantar pedras. Na lista de exigências trabalhistas deveria estar escrito "sem necessidade de fazer a barba" marcaria um x. camisetas brancas, bonés de posto de gasolina, vida real. Voce conhece algum homem de verdade? Algum com menos de 30 anos eu digo? A vida moderna transformou todo mundo numa coisa só, como na Grécia, eu acho, onde só existiam homens e exercícios mentais, o que me faz pensar que foram mulheres que levantaram aquelas colunas. Caminho alguns quilômetros, é legal me vangloriar de que estou indo de uma ponta da cidade a outra em pouco mais de duas horas de caminhada. É engraçado que quando eu procurava por empregos na área de comunicação, sempre estava encharcado de nervosismo, afinal, essas pessoas são naturalmente esnobes, mesmo que não sejam na verdade, voce sempre pensa que eles vão rir de voce assim que a porta se fechar. Quando voce procura por empregos físicos, as pessoas olham pra voce e dizem "tem certeza que quer isso?" ou "não podemos pagar muito, voce entende?", qual o problema em receber passes e marmitas ao invés de convites pra peças e exposições? Juro que semana que vem, vou numa garfiera, garfieira, gafiera, eu ainda não sei escrever, mas decidi que vou lá naquela que todo mundo fala, a que tocou pedro luis e a parede, man or astroman, que nenhum dos meus colegas sabem quem são, mas vão todo fim de semana naquele lugar caro e cheio de mulheres. Mais algumas horas, pastel do lado da catedral, recomendo, é o melhor pastel da cidade por cinqüenta centavos. Gosto de enfatizar o fato de o pastel ser feito por legitimas brasileiras. Praticamente as ultimas lutando contra o império da máfia das pastelarias chinesas, são 4 só ao redor da tia do pastel. Recomendo, quando voce vier aqui, coma os pasteis de cinqüenta centavos do lado da catedral. Meia hora e estou em casa. Vejo a novela das sete. Na verdade vejo porque divido apartamento com um menino que estuda cinema e por isso a casa vive cheia de futuros cineastas ricos, alias como todos que fizeram cinema nesta terra. O que me irrita é fato, não a minha pobreza, mas sim a riqueza deles. Não disse, mas faço trilha para os filmes deles, depois que um tal de Werner alguma coisa me elogiou, todos passaram a pedir trilhas minhas. Mas o estúdio andou mal das pernas, troquei minha guitarra por um violão, uma harmônica e o dinheiro do aluguel, larguei mão de bandas de rock, só servem pra fazer inimigos, lembre-se disso, nada de bandas. No momento em que escrevo, todos os cineastas usam a sala da casa como cenário pra mais um filme de muito sucesso. Ainda bem que existe internet.



Giancarlo Rufatto é de Curitiba, ás vezes escreve textos sem parágrafos e sim, tem o que fazer (adoro entregar as pessoas)

http://giancarlorufatto.blogspot.com/