Entrevista: My Darling YOU (Suécia)


Pérolas Escandinavas.
Por Danilo Nakamura

Se a Suécia fosse tão somente bela pelo genótipo dominante (com o perdão do eufemismo para "loira gostosa"), já seria motivo suficiente para qualquer menos-besta cogitar uma viagenzinha – ou, no mínimo, uma pesquisadela sobre o que faz de seu povo uma raça superior. Agora, veja bem: Ingmar Bergman em vez de novela das oito; IDH entre os cinco melhores do planeta; lagosta em vez de bife... chega. Pois é pra lá que aponta a maioria dos olhares garimpeiros de novidades bacanas no cenário musical, e não é de agora.

Para não perder o ritmo da última edição, "O Último Número" volta pra Escandinávia e traz a também primeira entrevista publicada em português com o duo de indiepop sueco My Darling You! - um daqueles belos exemplos de banda que a gente não gosta de dividir com os outros.
Sempre no formato DIY (do-it-yourself), o MDY completa cinco EP’s em três anos de carreira, com "I Will Exclude You With My Body Language" lançado no mês passado.

Mesmo com uma agenda pequena de shows, Klas e Christoffer ainda são grande referência no cenário nacional (da Suécia, claro) e têm ganhado projeção considerável nos bastidores da chamada imprensa especializada. O que segue abaixo é resultado de quinze dias de bate-papo com os caras, que do Brasil sabem tanto quanto nós de São Tomé e Príncipe.


Houve um tempo em que a Suécia era um dos maiores exportadores de pragas pop do mundo. Já hoje em dia, vocês têm sido comentados como o país mais cool fora do cenário Inglaterra-Estados Unidos. O que vocês acham daquela e desta Suécia – de Abba e Ace Of Base até Loney, Dear e I’m From Barcelona?

A gente prefere a antiga, pra ser sincero. Temos mais influência de bandas como o ABBA e o Ace Of Base que de, por exemplo, o I’m From Barcelona.
Há também uma grande produção de bandas DIY por aí. Isso é por ser difícil conseguir um contrato com os selos?


É tudo questão de grana... bufunfa mesmo. Existem vários selos pequenos, mas infelizmente a maioria deles não tem projeção alguma. O mais importante não é assinar com um selo, eu diria, mas ter uma distribuição decente ou contatos que te possibilitem ser divulgado e vender os discos.

Como é o processo DIY e quanto tempo leva para uma música ser finalizada?


Pelo menos duas horas e meia por música, mas é claro que isso depende de quão boa você quer que ela fique. Klas conseguiu copiar os timbres da bateria de um amigo pro computador. Então ele programa as baterias e grava a linha delas num estúdio portátil. Daí ele põe os sintetizadores – às vezes, percussão e violão – e a gente se junta para gravar a linhas de baixo e voz. O processo inteiro é um tanto longo, mas depois que grava a bateria fica bem mais fácil.
"I Will Exclude You…" soa um tanto parecido com "My heart beats too fast for our friendship to last" (penúltimo EP da banda) e poderia ser um CD completo, se unidos. Por que não lançar um disco inteiro em vez de vários EP’s?


A gente acha CD uma coisa meio semana passada. Trabalhar com EP’s parece bem mais criativo. Se a gente lançasse um álbum, provavelmente teria de coletar uns três EP’s e soa desnecessário. Mas nós lançamos recentemente "16 major problems", uma compilação dos três primeiros EP’s da banda, distribuída pelo selo peruano Plastilina Records. É um bom material introdutório pra quem quiser conhecer nosso trabalho.
E o que vocês ouvem?


Ah, cara, nossas influências são muitas. Até coisa que a gente não ouve. Mas eu tenho escutado muito Dub, e o Klas só ouve Peter Tosh...

Qual sua música preferida do My Darling You!?


Provavelmente LAST4EVER. A gente gosta de cantá-la juntos nos shows, pelo menos. Na verdade, todas nossas músicas são ótimas, nos contextos devidos.

O episódio descrito em "Taxidriver" realmente aconteceu? (a música descreve uma noite em que o cara divide um táxi com uma menina pra voltar da boate, e acaba sendo agarrado pelo taxista, mas se compadece dele...)*


Cara, tudo foi tão rápido. Mas está tudo descrito na música.

Vocês se dedicam integralmente à banda?


Como não queremos depender de sucesso, temos nossas outras ocupações. Klas trabalha numa loja de departamentos e eu (Christoffer) estudo. Aliás, nossa próxima música será sobre largar o emprego!

Como é a vida na Suécia?

Cerveja: R$8,00
Cigarro: R$12,00
Pão: R$6,00 (o pão lá é maior que o daqui, óbvio)
Prato típico de um dia ensolarado: Sanduíche natural de frutos do mar, batata cozida, caviar com pão, morangos com chantili para sobremesa e algo forte pra beber.
No inverno a gente quer ter verão, e no verão quer primavera.








Danilo Nakamura mora em Londrina/PR, é estudante de jornalismo e diz ter vivido os 10 melhores dias de sua vida em Estocolmo.
Contato: DaniloNakamura@hotmail.com