Fernanda Grabauska- Sem Título


(photo: Nelly Moretzsohn)




Me sinto cada vez menor em um lugar que não é meu e também fica cada vez menor pra mim. Esta cidade é tão absurdamente grande e linda, eu fico até sem palavras em relação ao pouco que eu conheço dela e dos seus habitantes, como o pouco que eu conheço se repete dia após dia.

Sempre as mesmas pessoas nos mesmos lugares, as mesmas ruas com nomes de gente que eu não conheço (aposto que o General Lima e Silva deve ter sido um grande cara). O mesmo quarto com lembranças escancaradas para quem quiser vê-las, sempre a mesma vista deste rio que ninguém sabe se faz bem ou mal à cidade. As mesmas pessoas com as mesmas roupas. Uma cidade pode ser surpreendentemente uniforme, com um desfile de menininhas vulgares com a face torrada de sol, velhas andando cabisbaixas como se quisessem invisibilidade e homens suando no verão ingrato característico de Porto Alegre.

Eu sinto que talvez não seja minha essa cidade. Nem esse quarto ou esse apartamento excessivamente mobiliado. Mas o fato de não serem meus não impede que eu tire o máximo deles. Assim como dessa gente de Porto Alegre, que não é minha gente, mas de quem se pode extrair lições de vida absurdas. Esse mundo não é meu, e eu penso que, mesmo socada nesse apartamento na zona rural de porto alegre, eu estou nele para aprender até que faça desse mundo o meu mundo.

Fernanda Grabauska tem 16 anos, mora em Porto Alegre e tem esse simpático sobrenome lituano