Natasha Pinto- Rabisco

Aí eu olhei para o céu e vi. Era uma nuvem tão clara e não era só clara, só branca, era diferente; não, não sei como, era simples e puramente diferente das demais. E eu já não sei se falo besteira, se existem várias nuvens ou se é tudo uma grande nuvem no céu, dispersa, não sei, e isso importa? Houve um momento em que me dei conta, me aproximei para analisar, enxergar melhor e sim, tive a absoluta certeza: se tratava de uma pintura. O céu havia sido pintado, traços tão finos que quase imperceptíveis, tamanha delicadeza e tamanha ousadia, quem se atreveria a pintar o céu? E aí vi o nome do maldito assinado lá no canto, lá embaixo, senti ódio, desgraçado, decidiu por si só e meteu o pincel no meu céu, no nosso céu, no céu de todos. Subi no parapeito da janela e com uma das mãos alcancei a nuvem - ou uma delas, não sei, me sinto confusa quando devo determinar se a nuvem é única ou não. Agarrei com toda a minha ira, se a nuvem fosse balão eu certamente a teria furado com as unhas, mas isso não aconteceu; na minha mão tinta e no céu tinta e por todo lado tinta. Borrei o céu. Confesso que até me arrependi por uns minutos, aquele céu tão puro e tão claro e tão bonito e agora tão borrado, confuso. Aí eu disse bem alto pra ninguém, eu disse que não, que não iria deixar isso barato, e depois eu chorei. Me olhei no espelho. Derreti.